Four Seasons

A intenção não é fazer de tudo um texto bonito, e sim, refletir sobre esses sonhos incertos.

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sábado, 19 de junho de 2010

Confusão

À sua esquerda, fogo. À sua direita, gelo. À sua frente, o horizonte infinito. Às suas costas, um beco sem saída. Acima de sua cabeça, a chuva caía sem cessar. Abaixo de si, o vidro quebrado machucava-lhe os pés.
Que caminho seguir?
Se ficasse parada, seu corpo paralisaria pelo gelo, seria consumido pelo fogo, os pés sangrariam até a morte, e ela poderia pegar um resfriado de tanto tomar chuva. Se seguisse em frente, caminharia eternamente, até que caísse em exaustão.
Era como se apenas lhe restasse aquele fim.
O único destino seria sucumbir? Olhou para trás, o muro que lhe barrava a visão do outro lado. Ela não tinha nada para derrubá-lo. E ela sabia.
Apenas conseguiria se derrubasse o muro.
Não. Aquilo não era o fim. Ela não tinha morrido. As coisas não se resumem à vida e morte naquela imaginação estranha da menina; trata-se apenas de uma dura decisão. As pessoas tomam decisões. Ela própria já tomara as mais diversas decisões; de umas se arrepende e de outras se orgulha. Ela se arrependeria ou se orgulharia da decisão que tomasse? Não se sabe. Somente ela pode escolher.
E ela escolheu.
Não seguiu em frente. Não voltou atrás. Atrás significa passado. Frente significa futuro. Esquerda é contrária à direita. E à direita, ela tinha algo extremamente frio, todavia, algo sólido e firme para caminhar até encontrar o lugar que tanto anseia. Escolheu a mágica idéia de caminhar sobre o gelo.
Esquerda e direita significavam o presente. Ela não pode viver pelo futuro, nem tentar voltar ao passado. Ela tinha que viver no presente. Era uma decisão a ser tomada no presente; perceba que o passado dela tinha sido barrado pelo muro, e o futuro se estendia infinitamente da mesma forma por não ter sido escrito ainda. E, além do gelo, havia grama. E aos poucos orvalho. Depois, areia. E, então, o cheiro e o sabor salgado do mar estavam presentes, pairando sobre o ar.
O sol brilhava. O gelo atrás de si se dissolvia. A parede de fogo quase invisível na distância percorrida se extinguia. O futuro infinitamente igual ganhava mudanças e o passado se destruíra.
E ela sorria, protegendo os olhos da luz quente e brilhante do sol.