Four Seasons

A intenção não é fazer de tudo um texto bonito, e sim, refletir sobre esses sonhos incertos.

Pages

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Solidão

É uma escolha sem volta. Aprendi isso ao conviver comigo mesma.
Ela caminhava em meio à cidade, as mãos nos bolsos da jaqueta larga, a mochila verde nas costas e o mesmo semblante inexpressivo. Não estava triste apesar de não se sentir verdadeiramente feliz. Parou em frente à faixa de segurança enquanto aguardava sem pressa a troca de cores no sinal. Embora nem ao menos passasse mais de um carro por dez segundos naquele cruzamento.
O vento outonal batia em seu rosto e lhe dava cor nas maçãs. Os olhos castanhos voltavam-se calmamente para o chão, onde folhas secas dançavam ao serem açoitadas pelo vento.
O sinal fechou. Ela começou a caminhar para a última parte do trajeto que levava do colégio até sua casa. Estava tão deserto que nem ao menos havia carros parados no sinal vermelho; era a menina dos olhos castanhos e vestes estranhas, e o vento.
Só ela e o vento.
Completamente sozinha.
Eu prefiro assim.
Parou perto de um prédio abandonado ainda em construção. Ela guardava rancores ácidos de tal lugar; prezava muito as árvores que lá erguiam-se com elegância antes de serem derrubadas sem dó para construírem o prédio.
É como se eu trouxesse desgraça; não posso me apegar às coisas e pessoas. Algo as fará se afastar, se não for por minha causa, é por um infortúnio.
Não se demorou por muito tempo, ela logo seguiu caminho. Em menos de 15 anos de vida, aprendia uma lição amarga porém incrivelmente verdadeira. Uma lição que ela, mas somente ela saberia interpretar. Porque somente ela sabe de tudo que passou, inclusive coisas das quais se envergonha. Egocêntrica, se ofende com facilidade; e isso a faz lembrar eternamente das situações constrangedoras, por mais insignificantes. 
E, pensando tanto nessas mesmas coisas, ela chegava àquela lição compreendida.
Aqueles que escolhem viver sozinhos, para sempre serão sozinhos. Quando algo se aproximar, um dia acabará se afastando de forma estranha, e sofrida para ela, ou para ambas; nunca apenas para a que se afasta. Se um dia ela gostar de algo, será a mesma coisa. Ela é sozinha; seus gostos são os únicos entre as pessoas que convive, o mesmo acontece com suas opiniões. Não é raro também ter sua existência esquecida pelas pessoas à sua volta. Isso faz com que boa parte de suas conversas sejam consigo mesma, e muitas das pessoas não a conhecem de verdade.
Ela sabe de tudo, seus problemas e suas limitações. Guarda um ódio das pessoas, uma ferida que parece demorar demasiadamente a cicatrizar. É como um pobre animal judiado que agora usa seus instintos e conhecimentos adquiridos com as experiências para se proteger, para não sofrer mais.
No fim, era tudo um trauma que um dia seria superado.
Enquanto isso, aquele pequeno complexo de inferioridade que apossou-se de seu ser continuaria fazendo com que ela caminhasse sozinha pelas ruas da consciência.
Mas um dia, ele sairia, e sua casca, para as outras pessoas, se abriria.