Four Seasons

A intenção não é fazer de tudo um texto bonito, e sim, refletir sobre esses sonhos incertos.

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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A dor de uma mãe.

As mãos vazias e largadas ao lado de seu tronco que repousava no chão gelado, sereno. Uma paz suspeita. Aquilo não era exatamente tranquilo. O rosto não tinha expressão e estava pálido. O que era aquilo?
Seu cabelo vermelho como fogo escorregou em seu rosto, As meigas distinções que haviam silenciado.
Ninguém nem reparava na existência do beco negro onde a jovem repousava.
Cheirava a álcool, o lugar. Eu me lembro bem. Ela era um ponto dourado em um universo cinza.
Aquela, a pessoa que jazia. A pessoa cuja tarefa de cuidar cabia a mim. No presente ou no passado, não importa. Mas não seria no futuro...

Lembrava-me dos momentos de quando ela ainda estava viva... Os seus olhos eram verdes. Seu sorriso era aberto e bonito. E ela vivia com vontade em meio aos seus 16 anos de idade, que provavelmente a jovem não havia aproveitado da forma que queria, ou da forma que deveria.

Mas, por ironia do destino ali estava eu, inclinada sobre o rosto dela.

Sem saber sobre por que ela estava ali, em meio a um lugar como aquele. E muito menos sabia por que ela estava morta.

Como explicar isso? Ou pior... Como explicar a dor de uma perda dessas? Porque eu posso parecer aos seus olhos, uma pessoa insensível... Eu não chorei.
Eu estava sobre o corpo morto de minha própria filha, mas não estava chorando.

Como explicar a dor de perder um filho amado? Eu não estava chorando. Porque eu me sentia tão morta por dentro, tão sem emoção, quase sem meus órgãos. Era como meu pai sempre dizia, quando falava sobre "perder seu Norte". Eu perdi algo que abri mão de muita coisa para ter. Eu perdi a pessoa que mais amava e tinha brigado, até mais do que minha própria mãe.

Quando ela tinha pintado suas lindas mechas achocolatadas, com aquele vermelho berrante, eu me lembro... Que quase devo ter atirado um vaso de flores nela. Mas não o fiz. Era um direito dela.

Sempre fora responsável, quieta, tranquila. Nunca precisei desconfiar ou vigiá-la, era bastante madura. Por isso, eu confiei quando ela me dizia que aqueles amigos eram pessoas dignas. Mas não eram.
Olha onde estava minha filha agora! A filha que na noite anterior eu havia permitido parar ali! Que eu deixei a responsabilidade de cuidar, mesmo que por uma noite, àqueles amigos confiáveis dela!

As pessoas começavam a se aglomerar em volta do corpo da filha, e da mãe sobre ele. A mãe que era eu. Deviam estar com pena. Ou então deviam estar apenas interessados, o humano da sociedade atual já abandonou o pesar, pelo menos até a perda ser dele. Às vezes nem depois disso.

Eu apenas me levantei. Carregava o corpo da menina em meus braços. Sempre fora pequena e leve. Agora parecia estranhamente pesada, ao mesmo tempo em que leve demais. Contraditório? Sim. Mas era o que eu sentia.

Passava pelas pessoas que olhavam com pena. Não era para sentir pena. Nem eu nem minha filha, um dia, fomos pessoas dignas de pena, graças aos céus. E eu me orgulhava dela mesmo que não estivesse mais entre nós!

Sorri sozinha, em meio à lagrimas. Lizzie, minha filha, você me fará muita falta.